Monday, October 22, 2007

"Escute...O vento está assobiando uma história"



Hoje passei na casa de meu amigo. Fui lá convidá-lo pra brincar comigo no lago. Fazíamos aquilo sempre que dava. E íamos felizes como se fosse a primeira vez. E sempre era. E assim foi naquele dia. Como sempre, mas como nunca tiramos nossas roupas e entramos na água, que estava limpa e azul, como se já tivesse sido pintada, há tempos, mas nunca vista. Era cedinho, como se o sol tivesse acordado com vontade de fazer-de-conta que era desenhista. Devia ser umas 7hs30, mas o sol ainda estava meio com preguiça, de boina e só queria saber de pintar a gente com as cores de laranja mais douradas do seu estojinho da aquarela. O sol estava bem fresco. Meu amigo estava bonito nesse dia. Sempre achei ele mais esquisito que bonito. Não que ele não fosse bonito. Eu acho que ele era bonito. Mas a boniteza dele pra mim era ser engraçado de esquisito. Mas aquele dia ele estava bonito de bonito.



Sempre, mas pela primeira vez naquele dia, achei que ele era anjo disfarçado de menino. Qualquer uma, mas só eu mesma naquele dia, podia ver que seu tronco não muito largo, seu bumbum assim meio cheinho e suas pernas meio curtas só podiam ser de um anjo meio torto no corpo de um menino bonito. O sexo dele era mais engraçado que todo o resto junto, parecia que tinham acabado de desenhar. Ainda não estava pronto. Era grande, maior que todo o resto, mas eu não olhava muito, não sei porquê, mas me dava uma febre no rosto de olhar muito.



Eu, naquele dia quando tirei meu vestido, reparei que ele olhou como muitas vezes fazia, mas como se fosse a última vez, e sempre era, para os meus peitinhos. Acho que ele olhava pra ver se eles iam falar alguma coisa. Mas era sempre eu quem dizia primeiro “cresceram?”, e ele com tom de novidade, mas como de costume, zombava de mim “sabe que não”. Um dia eu deixo ele ouvir dos meus peitinhos o segredo de que eles sempre quiseram crescer como os peitinhos das moças do cinema cresceram.



Entre os altos e baixos dos meus peitinhos, em meio a essa altura toda, a água do lago já estava na nossa barriga. Mas antes de eu pular nas costas do meu amigo como eu nunca tinha pulado ainda naquele dia, ele parou como se fosse sempre o menino Buda, de olhos bem abertos, como ele sempre se abria com os olhos a olhar em volta. Era de novo a hora do novo. Nessas horas, todas as vezes ele via coisas únicas, que só eram únicas naquele instante, porque só naquele instante estavam acontecendo unicamente do jeito que ele via.



“Escutou, o vento está falando sozinho”



“Ouviu, o vento está assobiando uma história”



“Preste atenção”



“Que história!”



Às vezes eu nem via o que ele via, eu fazia que ouvia. Às vezes, eu era meio burra, e saía falando qualquer palavra. Só pra dizer que me ouvia. Mas aos poucos fui aprendendo nessas horas a não falar nada. Como sempre, mas principalmente nesse dia essas duas palavras “Que história!”, que saíram da boca do meu amigo tocaram uma musica diferente. E assim que eu abri minha boca o silêncio que saiu, tocou exatamente a mesma música. Então sem combinar cantamos, como se sempre soubéssemos o que cantaríamos,


E lá estava eu, toda embalada de musica e de silêncio, com a água quase no pescoço, quando o safado do meu amigo, me pegou desprevenida e pulou nas minhas costas como há muito não pulava de novo, e começou a querer me dar caldo, aí não me agüentei, fiquei doida e comecei a morder o braço dele, o peito dele, a bochecha dele, sem usar o dente pra não machucar, mordi mesmo, ele só ria, é que ele sentia cócegas porque dizia que minha mordida parecia beijo e beijo, todo mundo sabe, ainda faz cócegas por muito tempo, antes de ser bom, como todo mundo sabe, menos eu e o meu amigo, ainda.



Eu era mais forte do que ele, e prendi suas bochechas de anjo meio torto com as minhas coxas de menino, porque eu tenho coxas de menino.



Quando eu vi, estava com a cara do meu amigo no meio da minha perna, onde mora um sorriso que cabe lindo lá, mas que a cada dia que passa vai ficando mais com jeito de sorriso cabeludo, mas eu gosto assim, é sorriso do mesmo jeito, dei risada, porque ali de onde eu olhava, parecia que meu amigo estava de bigode de palhaço.



E ali, no meio daquela água toda, daquele sol fresquinho, daquele instante, eu vi o que meu amigo via e ouvi pela primeira vez o vento assobiando a historia, que tanto meu amigo ouvia.



“E que história!”



(...)

Tuesday, October 16, 2007

HENFIL

"Eu nunca soube amar, eu nunca soube amar a cada um, eu nunca soube amá-los como indivíduos. Eu nunca soube aceitá-los como feios, fracos e lentos, tragam-me um doente e não chorarei com ele, mas me mostre um hospital e derramarei rios e mares, eu não sei falar e ouvir um homem ou uma mulher ou uma criança, eu só sei fazer coletivo, massa, povo, conjunto, sou capaz de ser herói, mas não sou capaz de ser enfermeiro, sou capaz de ser grande, mas não sou capaz de ser pequeno, eu nunca dei uma flor, nunca amei uma pessoa, mas tenho amor. Dou desenhos, dou textos, escrevo cartas sem contato manual, sem intimidade, sem entregar, por que desenho? por que escrevo cartas? Minha arte é fruto da minha importância de viver com vocês. Um dia vou rasgar o papel que escrevo, rasgar o bloco que desenho, rasgar até esse recado covarde e vou me melar e besuntar com vocês, tudo com o meu grande beijo, vocês vão me reconhecer fácil, vou ser o mais feliz de vocês..."