Sunday, November 23, 2008


Não tinha o pêlo felpudo
A gata que me adotou
Não tinha idade pra sair sozinha por aí
A gata que me adotou
Apesar dos olhos verdes de farol
Não tinha pra onde ir
A gata me adotou porque estava grávida ...
A gata que me adotou e bebeu do meu leite
Ou eu ?
Depois que me cativou,
a safada me convenceu a deixá-la ficar ...
Não necessariamente nessa ordem mas silenciosamente
Ficou
E quase com o mesmo volume de silêncio
Foi embora
Nosso estranho amor de mãe e filha durou o tempo de uma fotografia
Hoje comprei um pássaro numa dessas lojas que vendem animais
Comprei e soltei o bichinho
Sua liberdade custou 6 reais
Foi um alívio
Pra mim
Pensar que algumas liberdades realmente custam tão pouco
Alguém sempre paga o preço da nossa liberdade

Sunday, November 16, 2008



foto: Walter Antunes

Eu e Deus no Chevrolet ...


Minha mãe é uma gata. Ela é essa moreninha da foto. É a preta.
Quando eu era pequena, uma vez, minha mãe estava passeando comigo de carrinho e pararam ela na rua pra perguntar quanto ela queria pra mudar de emprego. Ela disse: “Eu não largo essa criança por dinheiro nenhum no mundo”. A gata tem um puta bom humor !!!
Tenho prestado muita atenção nas mães. Alguém que inventou aquela frase “Toda escolha é uma renúncia” deve ter se inspirado numa mãe.
Imagine se todas as mães do mundo fossem como as mães dos textos do Marião Bortolotto, o mundo ia estar bem fudido.Você pode não saber o que é comer um pedaço de bolo de fubá quente no fim de tarde na casa da sua vó, você pode passar a vida sem subir numa jabuticabeira com teu irmão e sem saber como se faz um bolinho de chuva, mas fudeu se tua mãe não está nem aí pra você.
Dou aula de dança e teatro pra criança de 3 a 17 anos (sim, tem muita criança de 17 anos). Faço isso por prazer, gosto muito da escola onde dou aula e bastante das crianças. Por isso mesmo às vezes volto pra casa pensando muito sobre essa história de ser mãe.
Tenho visto cada coisa. Pra começar da parte das escolas. Hoje existe uma paradinha numa certa escola bilíngüe que se chama “people of the week”, que nas palavras das crianças significa a “people da semana”.
As crianças são incentivadas pela própria escola a votarem entre elas, naquela que elas julgam ser a “people da semana”. Aquela que ganha, recebe um adesivo –troféu e passa a ser a “people da semana”, ou seja, uma espécie de mini celebridade.
Pra entender o critério que elas usam para julgar, perguntei pra uma turminha de 5, 6 anos, em quem elas votariam entre eu (que elas tinham acabado de conhecer), a professora de teatro delas (que está com elas há 6 meses) e o assistente (idem). Imagina, que elas me escolheram a “people of the week” !!! Eu, meio surpresa perguntei: porque eu ? “Ah, porque você é legal, tua roupa é legal e você é bonita”.
Tudo bem, são crianças de classe média alta e alguém aí pode dizer que a revolução só se faz pelas beiradas... mas a realidade hoje é tão complexa que se essa galerinha que está no topo não participar, sendo pelo menos, menos babacas que seus pais, talvez seja difícil qualquer evolução nas coisas.
O problema é que hoje pra muitos ser menos babaca significa cada vez mais ser a “people of the week”.
Ai, mãe ... quero ver quando chegar a minha vez ... de ser mãe ...

Thursday, November 13, 2008

Friday, November 07, 2008

meu pai

"pra veronica, uma amiga que também tem medo de andar de avião e vai pra tocantins no reveillon de ônibus"

Eu tenho pavor de avião. Eu não sei o quê as pessoas pensam quando o avião está decolando pra ficarem tão calmas. Eu faço planos ... pra eternidade. Penso no que eu posso fazer no entre vidas, no que eu quero ser na próxima encarnação. Sou amor ... sou amor. E vou plasmando. Eu sofro do efeito plasma na cadeira. Eu vou plasmando derretendo mesmo o meu corpo na cadeira. E começo a rezar meio alto. Fico parecendo uma carpideira. Se uma câmera me filmasse ia registrar um sapo desenhado pelo Tim Burton.

Eu só sossego quando apagam aquele sinalzinho do cinto de segurança. Aí eu penso: se o capitão Abreu ou o Capitão José Paulo Pedreira, ou seja, o Anônimo, a quem eu entreguei minha vida apagou a luz do cinto é porque deve estar tudo sob controle. Você já percebeu que a gente quer saber tudo. Quem tá saindo com quem, quantas calorias têm numa porcaria de um pãozinho de mel, mas nunca quer saber o nome do capitão do avião. Quantas pessoas vão falar com ele? Talvez aquelas pessoas que têm o cartão mega plus azul da AIRFRANCE. Talvez eles façam a famosa visita a cabine. Mas nada, nem o cartão mega plus azul da AIRFRANCE dá a eles o direito de dizer: Desculpa Seu Abreu mas o senhor é meio estranho. Eu não confio no senhor.

Tá certo. É uma paranóia minha. Pra quê saber o nome do capitão ??? Pelo mesmo motivo que o cara paga mais pelo champagne, pela cadeira que reclina, pela fila da first class: é pra se ter a ilusão de que tudo está sob controle. Ou pelo menos quase tudo. Ou pelo menos pra se ficar mais confortável.

Talvez a paranóia seja essa. O que fazer com o corpo quando o corpo não tem o controle. Controle ?! Fiquei aqui pensando qual a imagem imediata pra palavra controle. O ícone POP do controle?! Sim existe isso ... o ícone POP do controle no Google é nada mais nada menos que ... o controle remoto. Ninguém tem mais controle do que o remoto ... pelo menos virtualmente. Controle: essa nóia é de plástico e cheia de botões.

Às vezes me pego com essa loucura. Acho que eu puxei meu pai. Meu pai é uma dessas pessoas que se não está com o controle ... ele está descontrolado ... e descontrolando. Viajar com meu pai é uma das coisas mais engraçadas ... e desconcertantes do mundo. Ele é uma bola de boliche. Ele num aeroporto já começa brigando com a moça do check-in e vai. Ele briga com a mulher que detecta metais (e sempre acaba ficando de meias) ... com a minha irmã que quer comprar alguma coisa já no free-shop da IDA. Ele grita com a aeromoça ... Quando é assim eu até comemoro. Pior é quando ele chaveca a aeromoça... e acha que ela está gostando. Na última viagem que fizemos juntos ele conseguiu brigar com o passageiro da cadeira da frente. O cara reclamou que a minha irmã estava passando pra ir no banheiro e batendo na cadeira dele. Meu pai disse: O que você quer que ela faça? Ele disse: “Dá pra ela ter mais controle nos movimentos dela. Essa cadeira é minha. Eu paguei por ela”. Nossa pra quê? Meu pai – descontrolado - voou pra cima do cara. Queria bater nele. Quando é assim, eu já tenho até uma fala pronta. Eu digo: “O meu pai é louco, ele vai te bater, fica longe dele, ele é louco de verdade”. As pessoas geralmente ficam assustadíssimas. O meu pai quando é assim começa a fungar alto, parece um personagem da commeddia dell´arte, o brighella. Cômico. Italiano. Gesticulando. Nesse dia, nessa altura o avião inteiro estava olhando pra ele e comentando. As pessoas ficam apavoradas quando alguma coisa sai fora do controle.

Geralmente eu sou a favor da harmonia, mas, quando essas coisas acontecem nesses ambientes caretas, eu internamente, acho engraçadíssimo quando meu pai faz isso. Nesse dia quase fiquei sabendo o nome do capitão da aeronave. “Sr. Antenor, como capitão dessa aeronave, exijo que o senhor se comporte de acordo com as normas dos bons costumes e da boa educação. Se o senhor não conseguir manter-se sob controle seremos obrigados a intervir de maneira não-convencional (?), Sem mais, Sr. Capitão.”

Tuesday, November 04, 2008

olha eu ... tão pequena lá em cima dele ... olha ele ... lá dentro ... tão grande ... com seu amor tão grande ... quanto suor né ... quanta estrada ... quanto "puta que o pariu" ... nos seus braços 700 pessoas ... nas costas duas hernias ... crianças segurando baleias ... leões-marinhos domando focas ... e debaixo das suas barbas ... saudade ... saudade de uma trapezista medrosa ... a sua preferida ... a cagona que preferiu o palco ao picadeiro ... e só foi preferida por ele ... aquela pra quem ele volta depois que o circo roda ... por quem ele assobia toda noite da sacada ... e pra quem ele escreve ... pequenas delicadezas ... como essas que assaltaram as minhas águas

Confio no fio dourado de amor q tece os trajes eternos q vestiräo nossa união de alma , corpo e desejos. Confio no tênue fio da verdade, arame estendido no alto do céu, tão difícil de percorrer, tão sujeito à queda, mas q uma vez vencido nos entrega um paraízo de amor puro. Confio q destas nossas Flores e deste nosso esterco virão os mais belos frutos. Confio no fio invisível q teceu a rede q embala nosso sono compartilhado, nossos sonhos compartilhados, nossas almas abraçadas. Confio q vc assumiu este pacto comigo movida pelo coração e ñ pela razão. Confio no nosso calor e na nossa verdade. Te amo. R.B.