Wednesday, October 29, 2008

PIRIQUITA DE PÉ (STAND-UP PIRIQUITA)

Eu sou uma ótima atriz ... para fazer testes. Me chamam sempre... pra fazer réplica. “Olha você não está sendo testada, mas é bom pro diretor ir vendo sua carinha”. Tudo bem !!! Faz um tempo lá fui eu. Eu não estava sendo testada mas mesmo assim o diretor veio me dirigir: “olha eu preciso testar a outra atriz, então eu quero que você vá lá e acabe com ela”. "O que que eu faço?" "Acaba com ela" (...) Eu fui, sei lá o que o diretor falou pra menina que ela cuspiu na minha cara aí eu tive que cuspir na cara da menina. Um horror tamanho que eu fui indicada pra fazer o filme do Zé do Caixão.

Eu fiz ... o teste. Passei pra última fase. E eu acabei ganhando ... um beijo do Mojica. Mas calma, não foi tão ruim assim. Antes do beijo ele usou aquele hally spray. “Querida para garantir a máscara do horror se preciso for lhe beliscarei com um alicate”. E na hora de ir embora me disse.”Vai com Deus”.

Falando sério. Eu já fiz vários papéis ... fiz a transeunte 30 no filme do Fernando (Meirelles). A amiga das amigas da Aurelia no filme garotas do ABC, uma que (não) aparece chorando atrás dela no baile.

Nessa série Alice eu fiz a prostituta 2. Que foi um sucesso. Todo mundo que me encontra diz: te vi no Alice ... no letreiro final. Que horas você apareceu que eu não vi?

Não, eu não fui cortada, mas na hora que a câmera passa na minha frente eu viro a cabeça e fico de lado e o cabelo fica bem na frente. É o que eu chamo de intimidade do cabelo com a câmera.

Essa minha intimidade com os testes é culpa do meu primeiro teste. Muito bem-sucedido. Era uma propaganda de cartão de crédito. Eu só tinha que dançar, segurando umas caixas de presente. All you need is Love. Simples. Até o diretor me pedir. “Quando eu gritar Vai, você Cai de quatro”. Pausa para reflexão. OK. Então, ação. All you need is Love. E tal e tal e tal e de repente vem o “Vai”. E eu Espetacularmente, caio de quatro ... O diretor grita “Parou corta”. “O que você está fazendo menina?”. “Você não disse que era pra cair de quatro”. “Eu disse que era pra sair de quadro”. E eu passei no teste. Ganhei dez mil reais. Bom, a gente sempre soube que o que se precisa na vida é cair de quatro.

Eu viajo às vezes. Viajo mesmo. Esse ano fui pra Europa. Fui tirar cidadania italiana. As véia da minha familia ficam doidas. Minha tia sempre diz: “Não viaje Helena ... fica aí largando o pinto do seu marido pra você ver”. Minha tia tem 90 anos e é uma daquelas mulheres que solam. O cabelo dela é mais cuidado que o seu. As unhas dela muito mais feitas que as suas. É daquelas que te ligam pra te convidar pra ir com ela assistir uma peça de teatro no Clube Harmonia. Uma peça de teatro feito pelos sócios do Clube Harmonia. Ela vai, senta e dorme e fico eu lá. Vendo aquilo. Sabe quando os atores não sabem o porque, mas sabem que de vez em quando eles tem que olhar pro público. Então eles olham. Eles triangulam. Mas eles triangulam tanto, que chegam a ficar vesgos. A peça eu não vou comentar porque é sem palavras. Só indo. Mas só tem mais um fim de semana. É que todos os atores têm fazenda. Eles precisam viajar no fim de semana.É o hobby deles. É igual quando o Roberto Justus resolve gravar um CD. Roberto canta Sinatra.

Eu acho que pra ter uma banda tem que ter atitude. Não é pra qualquer um. Eu já tive uma banda. Nós ensaiávamos era muito legal. Íamos tocar num puteiro. Pra tirar um sarro. Eu não sei porque terminou. Perguntei pra um dos músicos porque a gente tinha parado de tocar. Ele disse que vai me escrever uma carta.

Eu já fiz muita coisa. Eu já treinei pra ser circense também. Meu marido tem um circo. Ele é palhaço. Sempre me perguntam: “E você o que você faz no circo?” (eu adoro essa pergunta). Eu respondo: “Ah, nesse espetáculo eu não faço nada. No primeiro eu fazia”. “Ah, o quê?” “Eu vendia pipoca”. A pessoa sempre fica com aquela cara. “É, Alguém tem que fazer a pipoca”. Eu descobri que eu tenho medo dessa coisa de ficar lá no alto. É lindo mas é perigoso pra caralho.

Mas eu tenho um número que poderia fazer no circo. Para adultos. O número da periquita que canta. Eu descobri que a minha piriquita canta. Todo mundo sabe que Piriquita faz uns barulhinhos. Pois é. A minha canta ... eu vou mostrar.

Em breve o vídeo.

Tchau

Wednesday, October 08, 2008


Ouvindo um bêbado cantar me apaixonei
Me apaixonei por ele
Como mulher
Me apaixonei como quem entra na contra-mão com um carrinho de bebê
Me apaixonei pelo que não tinha de pasta de dente no seu hálito
Pelo quê de podre que a mim ele generosamente devolvia
Me apaixonei por um bêbado
Como homem
Pelo o que ele tinha de embriaguez
Pelo que a musica tinha ele
Pela barba mal feita atrás do que era um monte de pelo
Pela capela de seu canto na calçada
Pela sujeira de sua voz
Pelo que não tinha de nó nem gravata
Me apaixonei
Me apaixonei por um bêbado que fala francês
Me adulterei
E Supliquei
Me coma
Antes só me divida com a fome
De seus amigos
Me engula antes só me vomita
Eu e o seu sangue
Na sua poesia santa
Me apaixonei por um bêbado
Pelo que não tinha de mim ali
Pelo quê de puro em mim que ele generosamente não reconhecia
Pelo que ele me revelava
Puta
Matéria
Humana
Fui embora
Ele não acreditou em mim
Não fui clara
Como ele

Wednesday, October 01, 2008


TRAIDORA DE UMA POESIA

sou a sua poesia

a que escapou para outros papéis

estou aqui pra te contornar que voltei

estou volvendo

tornando pra teu regresso

voltando das matas

fugidias da fingideza

ainda me limpando da erva daninha

da rinha

volto pequena

um pouco acuada e culpada

só pra não perder a rima

regresso com o amor como elmo

escudo

carranca proteção pra colocar na proa do barco

com a estrela reflexada nas águas do alto

dando o rosto a luz

a sua poesia voltou

pra se manuelar nos seus barros

pra se banhar nos seus derrames

e a começar senão pelo agora

a caneta que sai da tinta o sentido inverte do que poderia ser um fim

e o amor que eu te amava amanhã

hoje será maior

será delicadamente mais corajoso que água brincando com fogo

palavra entrando pela porta do fronte

será encantamento de salivas

Iluminura de lencóis

Desfilamento de verdades

Passa dura a limpo do caminho mole

Ninho em caminhada

Vontade de entrar no seu colar de pensaduras

E despensar a dor

Descolar o desamor

Despintar o pinto

Ficar só com a pintura

Da lelê redomada

Da pureza despudorada

e é agora no amanhecez

em que se abre o macio do olho

que a certeza desse amansão

me bota no mundo

me pare

me pára

me metra de dois metros de amor

me põe no tom

me viola sim

mas me toca a música intocada

a musica primordial

filha da violação de um violão

a musica dos menores

dos que são só ouvidos

dos de passagem em si mesmos

daqueles que não são perfeitos

...

o amor que vive acampado em ti me toca

o choro de um bebê

o canto de duas orquideas na janela

e mais alto que tudo

a musica daqueles que tão solitariamente

aguentam ser ouvidos das coisas menores ...

e por serem

isso mesmo

abrigo dos pequenos ... é que são os grandes ...

os maiores herdeiros de verdades