Wednesday, October 01, 2008

TRAIDORA DE UMA POESIA

sou a sua poesia

a que escapou para outros papéis

estou aqui pra te contornar que voltei

estou volvendo

tornando pra teu regresso

voltando das matas

fugidias da fingideza

ainda me limpando da erva daninha

da rinha

volto pequena

um pouco acuada e culpada

só pra não perder a rima

regresso com o amor como elmo

escudo

carranca proteção pra colocar na proa do barco

com a estrela reflexada nas águas do alto

dando o rosto a luz

a sua poesia voltou

pra se manuelar nos seus barros

pra se banhar nos seus derrames

e a começar senão pelo agora

a caneta que sai da tinta o sentido inverte do que poderia ser um fim

e o amor que eu te amava amanhã

hoje será maior

será delicadamente mais corajoso que água brincando com fogo

palavra entrando pela porta do fronte

será encantamento de salivas

Iluminura de lencóis

Desfilamento de verdades

Passa dura a limpo do caminho mole

Ninho em caminhada

Vontade de entrar no seu colar de pensaduras

E despensar a dor

Descolar o desamor

Despintar o pinto

Ficar só com a pintura

Da lelê redomada

Da pureza despudorada

e é agora no amanhecez

em que se abre o macio do olho

que a certeza desse amansão

me bota no mundo

me pare

me pára

me metra de dois metros de amor

me põe no tom

me viola sim

mas me toca a música intocada

a musica primordial

filha da violação de um violão

a musica dos menores

dos que são só ouvidos

dos de passagem em si mesmos

daqueles que não são perfeitos

...

o amor que vive acampado em ti me toca

o choro de um bebê

o canto de duas orquideas na janela

e mais alto que tudo

a musica daqueles que tão solitariamente

aguentam ser ouvidos das coisas menores ...

e por serem

isso mesmo

abrigo dos pequenos ... é que são os grandes ...

os maiores herdeiros de verdades

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