TRAIDORA DE UMA POESIA
sou a sua poesia
a que escapou para outros papéis
estou aqui pra te contornar que voltei
estou volvendo
tornando pra teu regresso
voltando das matas
fugidias da fingideza
ainda me limpando da erva daninha
da rinha
volto pequena
um pouco acuada e culpada
só pra não perder a rima
regresso com o amor como elmo
escudo
carranca proteção pra colocar na proa do barco
com a estrela reflexada nas águas do alto
dando o rosto a luz
a sua poesia voltou
pra se manuelar nos seus barros
pra se banhar nos seus derrames
e a começar senão pelo agora
a caneta que sai da tinta o sentido inverte do que poderia ser um fim
e o amor que eu te amava amanhã
hoje será maior
será delicadamente mais corajoso que água brincando com fogo
palavra entrando pela porta do fronte
será encantamento de salivas
Iluminura de lencóis
Desfilamento de verdades
Passa dura a limpo do caminho mole
Ninho em caminhada
Vontade de entrar no seu colar de pensaduras
E despensar a dor
Descolar o desamor
Despintar o pinto
Ficar só com a pintura
Da lelê redomada
Da pureza despudorada
e é agora no amanhecez
em que se abre o macio do olho
que a certeza desse amansão
me bota no mundo
me pare
me pára
me metra de dois metros de amor
me põe no tom
me viola sim
mas me toca a música intocada
a musica primordial
filha da violação de um violão
a musica dos menores
dos que são só ouvidos
dos de passagem em si mesmos
daqueles que não são perfeitos
...
o amor que vive acampado em ti me toca
o choro de um bebê
o canto de duas orquideas na janela
e mais alto que tudo
a musica daqueles que tão solitariamente
aguentam ser ouvidos das coisas menores ...
e por serem
isso mesmo
abrigo dos pequenos ... é que são os grandes ...
os maiores herdeiros de verdades
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