Monday, November 26, 2007

Monday, October 22, 2007

"Escute...O vento está assobiando uma história"



Hoje passei na casa de meu amigo. Fui lá convidá-lo pra brincar comigo no lago. Fazíamos aquilo sempre que dava. E íamos felizes como se fosse a primeira vez. E sempre era. E assim foi naquele dia. Como sempre, mas como nunca tiramos nossas roupas e entramos na água, que estava limpa e azul, como se já tivesse sido pintada, há tempos, mas nunca vista. Era cedinho, como se o sol tivesse acordado com vontade de fazer-de-conta que era desenhista. Devia ser umas 7hs30, mas o sol ainda estava meio com preguiça, de boina e só queria saber de pintar a gente com as cores de laranja mais douradas do seu estojinho da aquarela. O sol estava bem fresco. Meu amigo estava bonito nesse dia. Sempre achei ele mais esquisito que bonito. Não que ele não fosse bonito. Eu acho que ele era bonito. Mas a boniteza dele pra mim era ser engraçado de esquisito. Mas aquele dia ele estava bonito de bonito.



Sempre, mas pela primeira vez naquele dia, achei que ele era anjo disfarçado de menino. Qualquer uma, mas só eu mesma naquele dia, podia ver que seu tronco não muito largo, seu bumbum assim meio cheinho e suas pernas meio curtas só podiam ser de um anjo meio torto no corpo de um menino bonito. O sexo dele era mais engraçado que todo o resto junto, parecia que tinham acabado de desenhar. Ainda não estava pronto. Era grande, maior que todo o resto, mas eu não olhava muito, não sei porquê, mas me dava uma febre no rosto de olhar muito.



Eu, naquele dia quando tirei meu vestido, reparei que ele olhou como muitas vezes fazia, mas como se fosse a última vez, e sempre era, para os meus peitinhos. Acho que ele olhava pra ver se eles iam falar alguma coisa. Mas era sempre eu quem dizia primeiro “cresceram?”, e ele com tom de novidade, mas como de costume, zombava de mim “sabe que não”. Um dia eu deixo ele ouvir dos meus peitinhos o segredo de que eles sempre quiseram crescer como os peitinhos das moças do cinema cresceram.



Entre os altos e baixos dos meus peitinhos, em meio a essa altura toda, a água do lago já estava na nossa barriga. Mas antes de eu pular nas costas do meu amigo como eu nunca tinha pulado ainda naquele dia, ele parou como se fosse sempre o menino Buda, de olhos bem abertos, como ele sempre se abria com os olhos a olhar em volta. Era de novo a hora do novo. Nessas horas, todas as vezes ele via coisas únicas, que só eram únicas naquele instante, porque só naquele instante estavam acontecendo unicamente do jeito que ele via.



“Escutou, o vento está falando sozinho”



“Ouviu, o vento está assobiando uma história”



“Preste atenção”



“Que história!”



Às vezes eu nem via o que ele via, eu fazia que ouvia. Às vezes, eu era meio burra, e saía falando qualquer palavra. Só pra dizer que me ouvia. Mas aos poucos fui aprendendo nessas horas a não falar nada. Como sempre, mas principalmente nesse dia essas duas palavras “Que história!”, que saíram da boca do meu amigo tocaram uma musica diferente. E assim que eu abri minha boca o silêncio que saiu, tocou exatamente a mesma música. Então sem combinar cantamos, como se sempre soubéssemos o que cantaríamos,


E lá estava eu, toda embalada de musica e de silêncio, com a água quase no pescoço, quando o safado do meu amigo, me pegou desprevenida e pulou nas minhas costas como há muito não pulava de novo, e começou a querer me dar caldo, aí não me agüentei, fiquei doida e comecei a morder o braço dele, o peito dele, a bochecha dele, sem usar o dente pra não machucar, mordi mesmo, ele só ria, é que ele sentia cócegas porque dizia que minha mordida parecia beijo e beijo, todo mundo sabe, ainda faz cócegas por muito tempo, antes de ser bom, como todo mundo sabe, menos eu e o meu amigo, ainda.



Eu era mais forte do que ele, e prendi suas bochechas de anjo meio torto com as minhas coxas de menino, porque eu tenho coxas de menino.



Quando eu vi, estava com a cara do meu amigo no meio da minha perna, onde mora um sorriso que cabe lindo lá, mas que a cada dia que passa vai ficando mais com jeito de sorriso cabeludo, mas eu gosto assim, é sorriso do mesmo jeito, dei risada, porque ali de onde eu olhava, parecia que meu amigo estava de bigode de palhaço.



E ali, no meio daquela água toda, daquele sol fresquinho, daquele instante, eu vi o que meu amigo via e ouvi pela primeira vez o vento assobiando a historia, que tanto meu amigo ouvia.



“E que história!”



(...)

Tuesday, October 16, 2007

HENFIL

"Eu nunca soube amar, eu nunca soube amar a cada um, eu nunca soube amá-los como indivíduos. Eu nunca soube aceitá-los como feios, fracos e lentos, tragam-me um doente e não chorarei com ele, mas me mostre um hospital e derramarei rios e mares, eu não sei falar e ouvir um homem ou uma mulher ou uma criança, eu só sei fazer coletivo, massa, povo, conjunto, sou capaz de ser herói, mas não sou capaz de ser enfermeiro, sou capaz de ser grande, mas não sou capaz de ser pequeno, eu nunca dei uma flor, nunca amei uma pessoa, mas tenho amor. Dou desenhos, dou textos, escrevo cartas sem contato manual, sem intimidade, sem entregar, por que desenho? por que escrevo cartas? Minha arte é fruto da minha importância de viver com vocês. Um dia vou rasgar o papel que escrevo, rasgar o bloco que desenho, rasgar até esse recado covarde e vou me melar e besuntar com vocês, tudo com o meu grande beijo, vocês vão me reconhecer fácil, vou ser o mais feliz de vocês..."

Saturday, September 22, 2007

Ai de nós, os bem-apaixonados
Que só quisemos carinhos carinhosos
Entre tantos caminhos foi dado a nós
Sermos somente bons amigos

Por uns minutos quisemos o nós mas só pudemos
O eu que abraça e o tu que quer roubar um beijo
E assim foi tudo
Eternamente simples
Como o alcançar e o parar o tempo na brincadeira de uma criança

Não choram os que não sabem de nosso pequeno grande amor
Guardado pra nós e por nós em algum outro tempo
Separado do agora como o céu quando separado do azul
Por detrás ou entre nuvens, perdido

Vivem assim esses dois
Entre o apagar e o acender de luzes
E aquele rosto doce que tiveram em segredo
Às vezes aparece de relance
Em algum outro olho, refletido

Mas seguem às reticências aqueles que podíamos ser nós
Sabendo que é melhor avançar assim
Abençoados pelo breve esquecimento

Sunday, August 26, 2007

Outro dia me lembrei o que vem depois que as pessoas vão dormir

E a madrugada descobriu uma parte de mim

Eu sei o que me atrai mas não sei direito o que me faria ficar de novo

As madrugadas mais doces devem ser fazer esperar

Bebe-se muito cheira-se muito beija-se pouco, engraçado

A intimidade é levada a sério quando se namora a madrugada

E eu que passo tão sem ela, passei com ela momentos tão puros

Só eu mesmo pra achar flores no pântano

Tuesday, July 17, 2007

o prazer nos toma o tempo das palavras e não há o que dizer, nem precisa

Friday, July 13, 2007

nunca entendi direito porque o peter pan gostava mais da wendy que da sininho

Sunday, July 08, 2007

Hoje estou me sentindo como uma planta que tomou muita chuva.
Acho que estou com aquela cara que as pessoas olham e se perguntam “será que ela morreu?”. Sei que ainda estou viva porque estou respirando ainda que com dificuldade.
Eu sei que ainda estou cheirosa, mas não sinto, tenho em volta muita fumaça e cheiro de cigarro. Há dias atrás era a mais bonita do jardim. A que todos queriam colher. A que não se deixava ser colhida, mais por vaidade do que por pudor. Nunca quis fazer parte de um buquê. Mas hoje estou me sentindo como uma planta que tomou muita chuva. Não me tentaram colher. Só não me olharam mais. E tudo começou quando resolvi deixar chover em cima de mim. Eu fiz chover. Acho que inaugurei um nova de mim. Ou inovei a minha antiguidade. Virei ao avesso, vesti minhas pétalas ao contrário. E desfolhei. Desagüei junto com a chuva pedaços da minha beleza, da minha intimidade-flor. Da minha pureza branca e agora estou molhada. Hoje estou me sentindo apenas mais uma. Quase me deixaria virar um pedaço de pudor no meio de um buquê. Só uma flor que ninguém colocaria num buquê começa a sentir pudor. Não há por muito tempo uma virgem perdida num buquê de putas, pra ser mais clara. Agora sou mais clara, apesar das manchas da água que está secando em mim. Me deixei sacrificar. O sacrifício sempre chama a chuva.

Wednesday, July 04, 2007

Hoje estou me sentindo como uma criança perdida na praia segurando um baldinho
Tão pateticamente perdida que fico me imaginando com uma tanga daquelas infantis mesmo, sem sutiã, andando na areia, com o baldinho a procurar o meu guarda-sol.
Eu ainda não estou chorando e nem pedi ajuda
Eu acabei de perceber que estou só
Aquele mar de gente de um lado
E aquele mar do outro
Aquele mar que eu sempre quis só pra mim
Aquele mar que eu sempre quis entrar sozinha
Mas aqui estou eu com o meu baldinho a procurar meu guarda-sol.

Cadê? Cadê? Cadê? O Cadê Faz a gente se mexer de um jeito esquisito e com pressa que faz todo mundo reparar na gente. Mas eu sempre gostei de disfarçar quando estou com algum problema. Eu vou me achar sozinha. Minha mãe sempre me dizia “se você se perder, procura pelos holofotes, nós vamos estar sempre na frente”.Na frente onde? Na frente do holofote? Acho que todas as mães tiveram essa idéia, eram muitos guarda-sóis na frente do holofote.

Passou um moço vendendo queijo e me perguntou se eu queria.
Eu não sabia se eu queria.
Lembrei de um amiguinho que me dizia
Se não souber o que responder, responde com uma pergunta.
De onde vem os queijos, moço? Do céu?
O moço saiu andando. Acho que ele estava com pressa. Devia estar perdido.
Pensei, se é pra ficar perdida pra sempre, prefiro ir para o mundo dos queijos.

Olhei pro céu. Estava passando um daqueles aviões, com dizeres.
“Filha, sua mãe te espera no holofote”
Era o que eu queria que tivesse escrito.
Quando eu fico perdida, pra onde eu olho, leio um monte perguntas.
No céu tem flor?
Quanta água tem no mar?
No céu só tem flor se alguém jogar. E no mar tem bastante água para encher todos os olhos de lágrimas.
Eu teria respondido isso se eu fosse poeta, um amigo meu me contou que quando a gente não sabe uma resposta a gente responde como poeta. Se todo mundo soubesse tudo, não ia ter poesia?

Eu continuo perdida.
Agora eu estou meio chorando e fazendo poesia, eu acho.
Poesia é o que a gente faz antes ou depois de chorar. Essa eu que inventei.
Resolvi entrar no mar de gente.
Ai, ouvi tanta coisa.
Ouvi uma moça dizendo que está apaixonada por um moço, mas ele não.
Acho que ela vai fazer poesia,
Ouvi uma senhora de baton dizer.
Por que os homens são tão insensíveis?
Li o pensamento de um menino que olhou pra mim.
E se eu for criança pra sempre? Eu não vou conhecer o amor?
Ouvi um moço dizer
No fundo não aconteceu nada nunca com ninguém.
No fundo onde? Não aconteceu nada como? Nunca, tem certeza? Com ninguém, mesmo?
Peguei tanto tudo que eu ouvi, que me dês-acalmei.
Às vezes, pensar o pensamento dos outros só desacalma.

Resolvi sair do mar de gente
E olhei pro outro lado
Pro lugar daonde vem as lágrimas,
Se o mar é daonde vem as lágrimas, o mar é feito de poesia?
Estou procurando meu guarda-sol, mas só acho poesia.

O único perigo de agora em diante é nunca mais parar de fazer poesia.
Eu só falo em poesia, acho que eu estou apaixonada.
Dizem que quando a gente só fala numa coisa é porque está apaixonada.
O único perigo de agora em diante é se apaixonar;
Entro ou não entro no mar?

Devia ter falado para minha mãe, agora ela deve estar preocupada.
“Mãe, volto já com alguns pedaços de mim que devem andar espalhados por aí
Quem sabe em alguma marolinha”

Vou fazer de conta que eu disse isso
Vou ver se encontro meu guarda-sol lá do mar
Assim meio por acaso
Como quando a gente abre alguma página de um livro
Daquelas que a gente abre sem querer
Naquele minuto em que nos falta a sabedoria de inventar

E aquela frase nos inventa

O que eu achei?
Não aconteceu nada nunca com ninguém.
Talvez.
Talvez eu nem tenha me perdido.
E hoje eu nem esteja me sentindo como uma criança perdida na praia segurando um baldinho.

escrito às 00hs59min por helena, dia 5 de junho de 2007

Sunday, June 24, 2007

Não chegue perto assim senão você me toma
Você me doma
Você me encosta me arrasta me expulsa da redoma
Minha mente sua
Sensualmente sua


Um canto lugar
Pra te pôr em mim

Não pegue em mim assim senão você me pinta de mentira
Você provoca me entoca Me detesto por querer ser sua
Minha mente sua
Me censura

Ah
Não há um lugar
Pra te pôr em mim
Fujo de você

Bem se vê que não te quero

Bem se vê que

Não te espero

Fujo de você

Bem se vê



Quase não suporto seu olhar

Quase nem distraio

Porque o silêncio

Faria eu te beijar



Bem se vê

Que eu me escondo

antes que eu me dê com esse olho

olho bom de me ter olhando



Bem se vê



E se eu te visitar

não me deixe esquecer nada

Porque antes de você parar pra se tocar

Eu posso voltar, quase aparecer



não me ofereça água

da sua boca não quero nada

Boca boa de me ter beijando



Mas eu fujo de você

Bem se vê que não te quero

Bem se vê que

Não te espero

Fujo de você



Agora se eu esquecer o meu caderno de inocências

Eu vou ter que voltar

Então feche a porta

Porque senão eu vou entrar

você vai ler minhas linhas em curvas

E a noite pode durar pra sempre



as duas novas musiquinhas

Thursday, January 04, 2007

às vezes me sinto invisível
eu fico me perguntando
se ser visível é real

brilham pequenas - quase invisíveis às vezes - se olhadas de longe
enormes estrelas
e quando morrem
ainda assim as vemos na sua visível invisibilidade
a visão engana
quem preza só as coisas grandes

uma estrela por um momento
É tão real quanto tocar no invisível
Ser invisível pode ter o gosto de um céu de estrelas

às vezes Sou mais eu na superfície
Na Profundidade do encontro
Kama sutra das idéias com os outros
às vezes sou menos invisível com os outros do que comigo

outras vezes as estrelas me aparecem sozinha
Sem estigmatismos
que Atrapalham a visão
porque
às vezes é sozinha que consigo inventar, mesmo que um invísivel cheio de estrelas

olhar o céu sem ser a própria estrela hoje
soa como render-se ao estado de espectador de quem fabrica as visibilidades refrigeradas com suas bolhas de invisível conteúdo

o sagrado só tem sido sagrado se for pop
o sagrado está cada vez menos invisível

às vezes me sinto paulistanamente invisível
eu fico me perguntando
se ser visível nessa cidade é real

quando é assim preciso dançar sozinha ou na rua, num bar, numa igreja, conversar com as pessoas, falar merda, rezar, fazer alguma coisa pela cidade, por alguém, por mim que seja, ou apenas olhar o céu
às vezes preciso inventar o céu da minha cidade

escrito por helena janeiro;2006