Sunday, July 08, 2007

Hoje estou me sentindo como uma planta que tomou muita chuva.
Acho que estou com aquela cara que as pessoas olham e se perguntam “será que ela morreu?”. Sei que ainda estou viva porque estou respirando ainda que com dificuldade.
Eu sei que ainda estou cheirosa, mas não sinto, tenho em volta muita fumaça e cheiro de cigarro. Há dias atrás era a mais bonita do jardim. A que todos queriam colher. A que não se deixava ser colhida, mais por vaidade do que por pudor. Nunca quis fazer parte de um buquê. Mas hoje estou me sentindo como uma planta que tomou muita chuva. Não me tentaram colher. Só não me olharam mais. E tudo começou quando resolvi deixar chover em cima de mim. Eu fiz chover. Acho que inaugurei um nova de mim. Ou inovei a minha antiguidade. Virei ao avesso, vesti minhas pétalas ao contrário. E desfolhei. Desagüei junto com a chuva pedaços da minha beleza, da minha intimidade-flor. Da minha pureza branca e agora estou molhada. Hoje estou me sentindo apenas mais uma. Quase me deixaria virar um pedaço de pudor no meio de um buquê. Só uma flor que ninguém colocaria num buquê começa a sentir pudor. Não há por muito tempo uma virgem perdida num buquê de putas, pra ser mais clara. Agora sou mais clara, apesar das manchas da água que está secando em mim. Me deixei sacrificar. O sacrifício sempre chama a chuva.

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