Wednesday, July 04, 2007

Hoje estou me sentindo como uma criança perdida na praia segurando um baldinho
Tão pateticamente perdida que fico me imaginando com uma tanga daquelas infantis mesmo, sem sutiã, andando na areia, com o baldinho a procurar o meu guarda-sol.
Eu ainda não estou chorando e nem pedi ajuda
Eu acabei de perceber que estou só
Aquele mar de gente de um lado
E aquele mar do outro
Aquele mar que eu sempre quis só pra mim
Aquele mar que eu sempre quis entrar sozinha
Mas aqui estou eu com o meu baldinho a procurar meu guarda-sol.

Cadê? Cadê? Cadê? O Cadê Faz a gente se mexer de um jeito esquisito e com pressa que faz todo mundo reparar na gente. Mas eu sempre gostei de disfarçar quando estou com algum problema. Eu vou me achar sozinha. Minha mãe sempre me dizia “se você se perder, procura pelos holofotes, nós vamos estar sempre na frente”.Na frente onde? Na frente do holofote? Acho que todas as mães tiveram essa idéia, eram muitos guarda-sóis na frente do holofote.

Passou um moço vendendo queijo e me perguntou se eu queria.
Eu não sabia se eu queria.
Lembrei de um amiguinho que me dizia
Se não souber o que responder, responde com uma pergunta.
De onde vem os queijos, moço? Do céu?
O moço saiu andando. Acho que ele estava com pressa. Devia estar perdido.
Pensei, se é pra ficar perdida pra sempre, prefiro ir para o mundo dos queijos.

Olhei pro céu. Estava passando um daqueles aviões, com dizeres.
“Filha, sua mãe te espera no holofote”
Era o que eu queria que tivesse escrito.
Quando eu fico perdida, pra onde eu olho, leio um monte perguntas.
No céu tem flor?
Quanta água tem no mar?
No céu só tem flor se alguém jogar. E no mar tem bastante água para encher todos os olhos de lágrimas.
Eu teria respondido isso se eu fosse poeta, um amigo meu me contou que quando a gente não sabe uma resposta a gente responde como poeta. Se todo mundo soubesse tudo, não ia ter poesia?

Eu continuo perdida.
Agora eu estou meio chorando e fazendo poesia, eu acho.
Poesia é o que a gente faz antes ou depois de chorar. Essa eu que inventei.
Resolvi entrar no mar de gente.
Ai, ouvi tanta coisa.
Ouvi uma moça dizendo que está apaixonada por um moço, mas ele não.
Acho que ela vai fazer poesia,
Ouvi uma senhora de baton dizer.
Por que os homens são tão insensíveis?
Li o pensamento de um menino que olhou pra mim.
E se eu for criança pra sempre? Eu não vou conhecer o amor?
Ouvi um moço dizer
No fundo não aconteceu nada nunca com ninguém.
No fundo onde? Não aconteceu nada como? Nunca, tem certeza? Com ninguém, mesmo?
Peguei tanto tudo que eu ouvi, que me dês-acalmei.
Às vezes, pensar o pensamento dos outros só desacalma.

Resolvi sair do mar de gente
E olhei pro outro lado
Pro lugar daonde vem as lágrimas,
Se o mar é daonde vem as lágrimas, o mar é feito de poesia?
Estou procurando meu guarda-sol, mas só acho poesia.

O único perigo de agora em diante é nunca mais parar de fazer poesia.
Eu só falo em poesia, acho que eu estou apaixonada.
Dizem que quando a gente só fala numa coisa é porque está apaixonada.
O único perigo de agora em diante é se apaixonar;
Entro ou não entro no mar?

Devia ter falado para minha mãe, agora ela deve estar preocupada.
“Mãe, volto já com alguns pedaços de mim que devem andar espalhados por aí
Quem sabe em alguma marolinha”

Vou fazer de conta que eu disse isso
Vou ver se encontro meu guarda-sol lá do mar
Assim meio por acaso
Como quando a gente abre alguma página de um livro
Daquelas que a gente abre sem querer
Naquele minuto em que nos falta a sabedoria de inventar

E aquela frase nos inventa

O que eu achei?
Não aconteceu nada nunca com ninguém.
Talvez.
Talvez eu nem tenha me perdido.
E hoje eu nem esteja me sentindo como uma criança perdida na praia segurando um baldinho.

escrito às 00hs59min por helena, dia 5 de junho de 2007

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