Saturday, December 06, 2008

Thursday, December 04, 2008

Sunday, November 23, 2008


Não tinha o pêlo felpudo
A gata que me adotou
Não tinha idade pra sair sozinha por aí
A gata que me adotou
Apesar dos olhos verdes de farol
Não tinha pra onde ir
A gata me adotou porque estava grávida ...
A gata que me adotou e bebeu do meu leite
Ou eu ?
Depois que me cativou,
a safada me convenceu a deixá-la ficar ...
Não necessariamente nessa ordem mas silenciosamente
Ficou
E quase com o mesmo volume de silêncio
Foi embora
Nosso estranho amor de mãe e filha durou o tempo de uma fotografia
Hoje comprei um pássaro numa dessas lojas que vendem animais
Comprei e soltei o bichinho
Sua liberdade custou 6 reais
Foi um alívio
Pra mim
Pensar que algumas liberdades realmente custam tão pouco
Alguém sempre paga o preço da nossa liberdade

Sunday, November 16, 2008



foto: Walter Antunes

Eu e Deus no Chevrolet ...


Minha mãe é uma gata. Ela é essa moreninha da foto. É a preta.
Quando eu era pequena, uma vez, minha mãe estava passeando comigo de carrinho e pararam ela na rua pra perguntar quanto ela queria pra mudar de emprego. Ela disse: “Eu não largo essa criança por dinheiro nenhum no mundo”. A gata tem um puta bom humor !!!
Tenho prestado muita atenção nas mães. Alguém que inventou aquela frase “Toda escolha é uma renúncia” deve ter se inspirado numa mãe.
Imagine se todas as mães do mundo fossem como as mães dos textos do Marião Bortolotto, o mundo ia estar bem fudido.Você pode não saber o que é comer um pedaço de bolo de fubá quente no fim de tarde na casa da sua vó, você pode passar a vida sem subir numa jabuticabeira com teu irmão e sem saber como se faz um bolinho de chuva, mas fudeu se tua mãe não está nem aí pra você.
Dou aula de dança e teatro pra criança de 3 a 17 anos (sim, tem muita criança de 17 anos). Faço isso por prazer, gosto muito da escola onde dou aula e bastante das crianças. Por isso mesmo às vezes volto pra casa pensando muito sobre essa história de ser mãe.
Tenho visto cada coisa. Pra começar da parte das escolas. Hoje existe uma paradinha numa certa escola bilíngüe que se chama “people of the week”, que nas palavras das crianças significa a “people da semana”.
As crianças são incentivadas pela própria escola a votarem entre elas, naquela que elas julgam ser a “people da semana”. Aquela que ganha, recebe um adesivo –troféu e passa a ser a “people da semana”, ou seja, uma espécie de mini celebridade.
Pra entender o critério que elas usam para julgar, perguntei pra uma turminha de 5, 6 anos, em quem elas votariam entre eu (que elas tinham acabado de conhecer), a professora de teatro delas (que está com elas há 6 meses) e o assistente (idem). Imagina, que elas me escolheram a “people of the week” !!! Eu, meio surpresa perguntei: porque eu ? “Ah, porque você é legal, tua roupa é legal e você é bonita”.
Tudo bem, são crianças de classe média alta e alguém aí pode dizer que a revolução só se faz pelas beiradas... mas a realidade hoje é tão complexa que se essa galerinha que está no topo não participar, sendo pelo menos, menos babacas que seus pais, talvez seja difícil qualquer evolução nas coisas.
O problema é que hoje pra muitos ser menos babaca significa cada vez mais ser a “people of the week”.
Ai, mãe ... quero ver quando chegar a minha vez ... de ser mãe ...

Thursday, November 13, 2008

Friday, November 07, 2008

meu pai

"pra veronica, uma amiga que também tem medo de andar de avião e vai pra tocantins no reveillon de ônibus"

Eu tenho pavor de avião. Eu não sei o quê as pessoas pensam quando o avião está decolando pra ficarem tão calmas. Eu faço planos ... pra eternidade. Penso no que eu posso fazer no entre vidas, no que eu quero ser na próxima encarnação. Sou amor ... sou amor. E vou plasmando. Eu sofro do efeito plasma na cadeira. Eu vou plasmando derretendo mesmo o meu corpo na cadeira. E começo a rezar meio alto. Fico parecendo uma carpideira. Se uma câmera me filmasse ia registrar um sapo desenhado pelo Tim Burton.

Eu só sossego quando apagam aquele sinalzinho do cinto de segurança. Aí eu penso: se o capitão Abreu ou o Capitão José Paulo Pedreira, ou seja, o Anônimo, a quem eu entreguei minha vida apagou a luz do cinto é porque deve estar tudo sob controle. Você já percebeu que a gente quer saber tudo. Quem tá saindo com quem, quantas calorias têm numa porcaria de um pãozinho de mel, mas nunca quer saber o nome do capitão do avião. Quantas pessoas vão falar com ele? Talvez aquelas pessoas que têm o cartão mega plus azul da AIRFRANCE. Talvez eles façam a famosa visita a cabine. Mas nada, nem o cartão mega plus azul da AIRFRANCE dá a eles o direito de dizer: Desculpa Seu Abreu mas o senhor é meio estranho. Eu não confio no senhor.

Tá certo. É uma paranóia minha. Pra quê saber o nome do capitão ??? Pelo mesmo motivo que o cara paga mais pelo champagne, pela cadeira que reclina, pela fila da first class: é pra se ter a ilusão de que tudo está sob controle. Ou pelo menos quase tudo. Ou pelo menos pra se ficar mais confortável.

Talvez a paranóia seja essa. O que fazer com o corpo quando o corpo não tem o controle. Controle ?! Fiquei aqui pensando qual a imagem imediata pra palavra controle. O ícone POP do controle?! Sim existe isso ... o ícone POP do controle no Google é nada mais nada menos que ... o controle remoto. Ninguém tem mais controle do que o remoto ... pelo menos virtualmente. Controle: essa nóia é de plástico e cheia de botões.

Às vezes me pego com essa loucura. Acho que eu puxei meu pai. Meu pai é uma dessas pessoas que se não está com o controle ... ele está descontrolado ... e descontrolando. Viajar com meu pai é uma das coisas mais engraçadas ... e desconcertantes do mundo. Ele é uma bola de boliche. Ele num aeroporto já começa brigando com a moça do check-in e vai. Ele briga com a mulher que detecta metais (e sempre acaba ficando de meias) ... com a minha irmã que quer comprar alguma coisa já no free-shop da IDA. Ele grita com a aeromoça ... Quando é assim eu até comemoro. Pior é quando ele chaveca a aeromoça... e acha que ela está gostando. Na última viagem que fizemos juntos ele conseguiu brigar com o passageiro da cadeira da frente. O cara reclamou que a minha irmã estava passando pra ir no banheiro e batendo na cadeira dele. Meu pai disse: O que você quer que ela faça? Ele disse: “Dá pra ela ter mais controle nos movimentos dela. Essa cadeira é minha. Eu paguei por ela”. Nossa pra quê? Meu pai – descontrolado - voou pra cima do cara. Queria bater nele. Quando é assim, eu já tenho até uma fala pronta. Eu digo: “O meu pai é louco, ele vai te bater, fica longe dele, ele é louco de verdade”. As pessoas geralmente ficam assustadíssimas. O meu pai quando é assim começa a fungar alto, parece um personagem da commeddia dell´arte, o brighella. Cômico. Italiano. Gesticulando. Nesse dia, nessa altura o avião inteiro estava olhando pra ele e comentando. As pessoas ficam apavoradas quando alguma coisa sai fora do controle.

Geralmente eu sou a favor da harmonia, mas, quando essas coisas acontecem nesses ambientes caretas, eu internamente, acho engraçadíssimo quando meu pai faz isso. Nesse dia quase fiquei sabendo o nome do capitão da aeronave. “Sr. Antenor, como capitão dessa aeronave, exijo que o senhor se comporte de acordo com as normas dos bons costumes e da boa educação. Se o senhor não conseguir manter-se sob controle seremos obrigados a intervir de maneira não-convencional (?), Sem mais, Sr. Capitão.”

Tuesday, November 04, 2008

olha eu ... tão pequena lá em cima dele ... olha ele ... lá dentro ... tão grande ... com seu amor tão grande ... quanto suor né ... quanta estrada ... quanto "puta que o pariu" ... nos seus braços 700 pessoas ... nas costas duas hernias ... crianças segurando baleias ... leões-marinhos domando focas ... e debaixo das suas barbas ... saudade ... saudade de uma trapezista medrosa ... a sua preferida ... a cagona que preferiu o palco ao picadeiro ... e só foi preferida por ele ... aquela pra quem ele volta depois que o circo roda ... por quem ele assobia toda noite da sacada ... e pra quem ele escreve ... pequenas delicadezas ... como essas que assaltaram as minhas águas

Confio no fio dourado de amor q tece os trajes eternos q vestiräo nossa união de alma , corpo e desejos. Confio no tênue fio da verdade, arame estendido no alto do céu, tão difícil de percorrer, tão sujeito à queda, mas q uma vez vencido nos entrega um paraízo de amor puro. Confio q destas nossas Flores e deste nosso esterco virão os mais belos frutos. Confio no fio invisível q teceu a rede q embala nosso sono compartilhado, nossos sonhos compartilhados, nossas almas abraçadas. Confio q vc assumiu este pacto comigo movida pelo coração e ñ pela razão. Confio no nosso calor e na nossa verdade. Te amo. R.B.

Wednesday, October 29, 2008

PIRIQUITA DE PÉ (STAND-UP PIRIQUITA)

Eu sou uma ótima atriz ... para fazer testes. Me chamam sempre... pra fazer réplica. “Olha você não está sendo testada, mas é bom pro diretor ir vendo sua carinha”. Tudo bem !!! Faz um tempo lá fui eu. Eu não estava sendo testada mas mesmo assim o diretor veio me dirigir: “olha eu preciso testar a outra atriz, então eu quero que você vá lá e acabe com ela”. "O que que eu faço?" "Acaba com ela" (...) Eu fui, sei lá o que o diretor falou pra menina que ela cuspiu na minha cara aí eu tive que cuspir na cara da menina. Um horror tamanho que eu fui indicada pra fazer o filme do Zé do Caixão.

Eu fiz ... o teste. Passei pra última fase. E eu acabei ganhando ... um beijo do Mojica. Mas calma, não foi tão ruim assim. Antes do beijo ele usou aquele hally spray. “Querida para garantir a máscara do horror se preciso for lhe beliscarei com um alicate”. E na hora de ir embora me disse.”Vai com Deus”.

Falando sério. Eu já fiz vários papéis ... fiz a transeunte 30 no filme do Fernando (Meirelles). A amiga das amigas da Aurelia no filme garotas do ABC, uma que (não) aparece chorando atrás dela no baile.

Nessa série Alice eu fiz a prostituta 2. Que foi um sucesso. Todo mundo que me encontra diz: te vi no Alice ... no letreiro final. Que horas você apareceu que eu não vi?

Não, eu não fui cortada, mas na hora que a câmera passa na minha frente eu viro a cabeça e fico de lado e o cabelo fica bem na frente. É o que eu chamo de intimidade do cabelo com a câmera.

Essa minha intimidade com os testes é culpa do meu primeiro teste. Muito bem-sucedido. Era uma propaganda de cartão de crédito. Eu só tinha que dançar, segurando umas caixas de presente. All you need is Love. Simples. Até o diretor me pedir. “Quando eu gritar Vai, você Cai de quatro”. Pausa para reflexão. OK. Então, ação. All you need is Love. E tal e tal e tal e de repente vem o “Vai”. E eu Espetacularmente, caio de quatro ... O diretor grita “Parou corta”. “O que você está fazendo menina?”. “Você não disse que era pra cair de quatro”. “Eu disse que era pra sair de quadro”. E eu passei no teste. Ganhei dez mil reais. Bom, a gente sempre soube que o que se precisa na vida é cair de quatro.

Eu viajo às vezes. Viajo mesmo. Esse ano fui pra Europa. Fui tirar cidadania italiana. As véia da minha familia ficam doidas. Minha tia sempre diz: “Não viaje Helena ... fica aí largando o pinto do seu marido pra você ver”. Minha tia tem 90 anos e é uma daquelas mulheres que solam. O cabelo dela é mais cuidado que o seu. As unhas dela muito mais feitas que as suas. É daquelas que te ligam pra te convidar pra ir com ela assistir uma peça de teatro no Clube Harmonia. Uma peça de teatro feito pelos sócios do Clube Harmonia. Ela vai, senta e dorme e fico eu lá. Vendo aquilo. Sabe quando os atores não sabem o porque, mas sabem que de vez em quando eles tem que olhar pro público. Então eles olham. Eles triangulam. Mas eles triangulam tanto, que chegam a ficar vesgos. A peça eu não vou comentar porque é sem palavras. Só indo. Mas só tem mais um fim de semana. É que todos os atores têm fazenda. Eles precisam viajar no fim de semana.É o hobby deles. É igual quando o Roberto Justus resolve gravar um CD. Roberto canta Sinatra.

Eu acho que pra ter uma banda tem que ter atitude. Não é pra qualquer um. Eu já tive uma banda. Nós ensaiávamos era muito legal. Íamos tocar num puteiro. Pra tirar um sarro. Eu não sei porque terminou. Perguntei pra um dos músicos porque a gente tinha parado de tocar. Ele disse que vai me escrever uma carta.

Eu já fiz muita coisa. Eu já treinei pra ser circense também. Meu marido tem um circo. Ele é palhaço. Sempre me perguntam: “E você o que você faz no circo?” (eu adoro essa pergunta). Eu respondo: “Ah, nesse espetáculo eu não faço nada. No primeiro eu fazia”. “Ah, o quê?” “Eu vendia pipoca”. A pessoa sempre fica com aquela cara. “É, Alguém tem que fazer a pipoca”. Eu descobri que eu tenho medo dessa coisa de ficar lá no alto. É lindo mas é perigoso pra caralho.

Mas eu tenho um número que poderia fazer no circo. Para adultos. O número da periquita que canta. Eu descobri que a minha piriquita canta. Todo mundo sabe que Piriquita faz uns barulhinhos. Pois é. A minha canta ... eu vou mostrar.

Em breve o vídeo.

Tchau

Wednesday, October 08, 2008


Ouvindo um bêbado cantar me apaixonei
Me apaixonei por ele
Como mulher
Me apaixonei como quem entra na contra-mão com um carrinho de bebê
Me apaixonei pelo que não tinha de pasta de dente no seu hálito
Pelo quê de podre que a mim ele generosamente devolvia
Me apaixonei por um bêbado
Como homem
Pelo o que ele tinha de embriaguez
Pelo que a musica tinha ele
Pela barba mal feita atrás do que era um monte de pelo
Pela capela de seu canto na calçada
Pela sujeira de sua voz
Pelo que não tinha de nó nem gravata
Me apaixonei
Me apaixonei por um bêbado que fala francês
Me adulterei
E Supliquei
Me coma
Antes só me divida com a fome
De seus amigos
Me engula antes só me vomita
Eu e o seu sangue
Na sua poesia santa
Me apaixonei por um bêbado
Pelo que não tinha de mim ali
Pelo quê de puro em mim que ele generosamente não reconhecia
Pelo que ele me revelava
Puta
Matéria
Humana
Fui embora
Ele não acreditou em mim
Não fui clara
Como ele

Wednesday, October 01, 2008


TRAIDORA DE UMA POESIA

sou a sua poesia

a que escapou para outros papéis

estou aqui pra te contornar que voltei

estou volvendo

tornando pra teu regresso

voltando das matas

fugidias da fingideza

ainda me limpando da erva daninha

da rinha

volto pequena

um pouco acuada e culpada

só pra não perder a rima

regresso com o amor como elmo

escudo

carranca proteção pra colocar na proa do barco

com a estrela reflexada nas águas do alto

dando o rosto a luz

a sua poesia voltou

pra se manuelar nos seus barros

pra se banhar nos seus derrames

e a começar senão pelo agora

a caneta que sai da tinta o sentido inverte do que poderia ser um fim

e o amor que eu te amava amanhã

hoje será maior

será delicadamente mais corajoso que água brincando com fogo

palavra entrando pela porta do fronte

será encantamento de salivas

Iluminura de lencóis

Desfilamento de verdades

Passa dura a limpo do caminho mole

Ninho em caminhada

Vontade de entrar no seu colar de pensaduras

E despensar a dor

Descolar o desamor

Despintar o pinto

Ficar só com a pintura

Da lelê redomada

Da pureza despudorada

e é agora no amanhecez

em que se abre o macio do olho

que a certeza desse amansão

me bota no mundo

me pare

me pára

me metra de dois metros de amor

me põe no tom

me viola sim

mas me toca a música intocada

a musica primordial

filha da violação de um violão

a musica dos menores

dos que são só ouvidos

dos de passagem em si mesmos

daqueles que não são perfeitos

...

o amor que vive acampado em ti me toca

o choro de um bebê

o canto de duas orquideas na janela

e mais alto que tudo

a musica daqueles que tão solitariamente

aguentam ser ouvidos das coisas menores ...

e por serem

isso mesmo

abrigo dos pequenos ... é que são os grandes ...

os maiores herdeiros de verdades

Sunday, September 21, 2008


parte da pesquisa Camille: Infância

Hoje estou me sentindo como uma criança perdida na praia segurando um baldinho
Tão pateticamente perdida que fico me imaginando com uma tanga daquelas infantis mesmo, sem sutiã, andando na areia, com o baldinho a procurar o meu guarda-sol.
Eu ainda não estou chorando e nem pedi ajuda
Eu acabei de perceber que estou só
Aquele mar de gente de um lado
E aquele mar do outro
Aquele mar que eu sempre quis só pra mim
Aquele mar que eu sempre quis entrar sozinha
Mas aqui estou eu com o meu baldinho a procurar meu guarda-sol.
Cadê? Cadê? Cadê?
O Cadê Faz a gente se mexer de um jeito esquisito e com pressa que faz todo mundo reparar na gente.
Mas eu sempre gostei de disfarçar quando estou com algum problema.
Eu vou me achar sozinha.
Minha mãe sempre me dizia “se você se perder, procura pelos holofotes, nós vamos estar sempre na frente”.
Na frente onde? Na frente do holofote?
Acho que todas as mães tiveram essa idéia, eram muitos guarda-sóis na frente do holofote.
Passou um moço vendendo queijo e me perguntou se eu queria.
Eu não sabia se eu queria.
Lembrei de um amiguinho que me dizia
Se não souber o que responder, responde com uma pergunta.
De onde vem os queijos, moço? Da lua?
O moço saiu andando.
Acho que ele estava com pressa.
Devia estar perdido.
Pensei, se é pra ficar perdida pra sempre, prefiro ir pro céu.
Olhei pra lá. Estava passando um daqueles aviões, com dizeres.
“Filha, sua mãe te espera no holofote”
Era o que eu queria que tivesse escrito.
Quando eu fico perdida, pra onde eu olho, leio um monte perguntas.
No céu tem flor? Quanta água tem no mar?
No céu só tem flor se alguém jogar.
E no mar tem bastante água para encher todos os olhos de lágrimas.
Eu teria respondido isso se eu fosse poeta, um amigo meu me contou que quando a gente não sabe uma resposta a gente responde como poeta.
Se todo mundo soubesse tudo, não ia ter poesia?
Eu continuo perdida.
Agora eu estou meio chorando e fazendo poesia, eu acho.
Poesia é o que a gente faz antes ou depois de chorar.
Resolvi entrar no mar de gente. Ai, ouvi tanta coisa.
Ouvi uma moça dizendo que está apaixonada por um moço, mas ele não.
Acho que ela vai fazer poesia,
Ouvi uma senhora de baton dizer.
Por que os homens são tão insensíveis?
Li o pensamento de um menino que olhou pra mim.
E se eu for criança pra sempre? Eu não vou conhecer o amor?
Ouvi um moço dizer
No fundo não aconteceu nada nunca com ninguém.
No fundo onde? Não aconteceu nada como? Nunca, tem certeza?
Com ninguém, mesmo?
Peguei tanto tudo que eu ouvi, que me dês-acalmei.
Às vezes, pensar o pensamento dos outros só desacalma.
Resolvi sair do mar de gente
E olhei pro outro lado
Pro lugar daonde vem as lágrimas,
Se o mar é daonde vem as lágrimas, o mar é feito de poesia?
Estou procurando meu guarda-sol, mas só acho poesia.
O único perigo de agora em diante é nunca mais parar de fazer poesia.
Eu só falo em poesia, acho que eu estou apaixonada.
Dizem que quando a gente só fala numa coisa é porque está apaixonada.
O único perigo de agora em diante é se apaixonar;
Entro ou não entro no mar?
Devia ter falado para minha mãe, agora ela deve estar preocupada.
“Mãe, volto já com alguns pedaços de mim que devem andar espalhados por aí
Quem sabe em alguma marolinha”
Vou fazer de conta que eu disse isso
Vou ver se encontro meu guarda-sol lá do mar
Assim meio por acaso
Como quando a gente abre alguma página de um livro
Daquelas que a gente abre sem querer
Naquele minuto em que nos falta a sabedoria de inventar
E aquela frase nos inventa
O que eu achei?
Não aconteceu nada nunca com ninguém.
Talvez.
Talvez eu nem tenha me perdido.
E hoje eu nem esteja me sentindo como uma criança perdida na praia segurando um baldinho.
parte da pesquisa Camille: Desapego
Réquiem para um Pedido
Finalmente pude comer com calma a sombra das tuas pestanas
E o gosto foi de copa de árvore
Descanso de Luz
Derrame de Água
Foi de Sonata
Catarata esmeralada
Foi
Fez-se
Houve tempo pras ondas se abraçarem
Se ouvirem
E na espuma se divertirem
Teve Tempo pra maquiagem virar miragem
Pro deserto virar mar
Pro mar molhar concreto
E a concretude toda jorrar no céu da boca
Do rímel desfeito fez-se o contorno real dos olhos
E das pálpebras assombradas da menina e do menino fez-se a luz
Foi o réquiem para um pedido
Mais duro que o sonho de um martelo
Pra mim o momento mais difícil
Desde a última bronca de meu avô
Te transformar no meu chamado do lugar de amado
Para o de amigo
Tormento
Instantâneo Lamento
Que Só agora acho que entendo
Achei que desabaria junto com o majestoso às seis da tarde, mesmo toda cheia de cor
Mas escolhi um lugar pra vê-lo se pôr
E a alvorada teve gosto de aurora
Tu tiveste gosto de amigo
De proteção
Do pranto o pronto alívio
Pois dos idos do navio para o além
Ficou uma semente na barriga de alguém
No lugar do desejo da boca
Dançando tão bonitinha com a outra
Ficou a certeza do olho
E No lugar do colo
Aos invés das pernas abertas
Ficaram as descobertas
Abençoadas pelo porvir
Sol posto
De olhos fechados
Pude Escutar de novo as cordas da tua voz sussurrarem uma canção secreta
E a minha sensação foi de desapego
Desapego com a vitória e com o fracasso
Soltura
Ali pedi pra começar a te modular diferente
Nas minhas ondas cerebrais
Te libertar, passarinho
Do lugar que eu criei pra ti
De Príncipe do futuro
De meu Homem
De meu companheiro do café da manhã de algum dia
Não pedi pra parar de te desejar
Porque sei que não vou conseguir
Pois tenho muita vontade pra te dar ainda
Mas como estava no meio da oração e não podia cair em tentação
Pedi apenas Pernas
Para Dançar caso alguma sensação involuntária
Venha pra mim por debaixo da saia
E aqui estou eu mais leve
Transformando
E não pensando que dentro de mim um dia coube um alazão

Wednesday, September 10, 2008

Parte da pesquisa Camille: Dor

Hoje estou me sentindo como uma planta que tomou muita chuva.Acho que estou com aquela cara que as pessoas olham e se perguntam “será que ela morreu?”. Sei que ainda estou viva porque estou respirando ainda que com dificuldade.Eu sei que ainda estou cheirosa, mas não sinto, tenho em volta muita fumaça e cheiro de cigarro. Há dias atrás era a mais bonita do jardim. A que todos queriam colher. A que não se deixava ser colhida, mais por vaidade do que por pudor. Nunca quis fazer parte de um buquê. Mas hoje estou me sentindo como uma planta que tomou muita chuva. Não me tentaram colher. Só não me olharam mais. E tudo começou quando resolvi deixar chover em cima de mim. Eu fiz chover. Acho que inaugurei um nova de mim. Ou inovei a minha antiguidade. Virei ao avesso, vesti minhas pétalas ao contrário. E desfolhei. Desagüei junto com a chuva pedaços da minha beleza, da minha intimidade-flor. Da minha pureza branca e agora estou molhada. Hoje estou me sentindo apenas mais uma. Quase me deixaria virar um pedaço de pudor no meio de um buquê. Só uma flor que ninguém colocaria num buquê começa a sentir pudor. Não há por muito tempo uma virgem perdida num buquê de putas, pra ser mais clara. Agora sou mais clara, apesar das manchas de água que estão secando em mim. Me deixei sacrificar. O sacrifício sempre chama a chuva.

Friday, September 05, 2008

Bem do Alto da Duna

Entre os mortais e o Eterno, há um meio físico mediador: o deserto,
quadro tradicional das teofanias.
Moisés, Jesus ou Maomé, quer no Exôdo, na Tentação ou na Fuga,
nossos profetas foram todos "peregrinos das areias".
O árido nos cura dos ídolos.
O "verdadeiro Deus" se opõe ao falso
como o desolado ao povoado
e o mineral às vegetações
Renan concluiu um pouco apressadamente: "o deserto é monoteísta".
Ele só o é, de fato, se o beduíno souber ler.
Há uma ecologia do divino, incontestavelmente,
mas o deserto é tão somente um lugar de passagem
e o que permite atravessá-lo é o domínio dos signos,
pois o acesso a transcendência
não está na imensidão das coisas, mas na sua miniaturização.

Autor (por mim) desconhecido
poesia e verdades de mentira

Wednesday, August 20, 2008

parte da pesquisa Camille: Sonho

há três dias que sonho que estou na sua cozinha
esperando você acordar
estou sentada
com um braço segurando a cabeça
um pouco sem graça
um pouco tímida de estar aí
de estar incomodando
te olho pela frestinha da porta
e você dorme tão tranquilo
que não tenho coragem de acordar
eu vou embora
mas antes dou uma bronca
em alguém que está comigo
alguém que me leva até você
que me põe na sua cozinha
deixa ele em paz, eu digo
olho pra duas taças de vinho vazias
em cima da mesa
elas estão em paz
te olho mais uma vez
e você no seu sono
tambem verdadeiramente
em paz

a minha vontade é
indagar seus olhos pequenos
se tens saudade de comer
a sombra das minhas pestanas

mas não te acordo
e continuo sonhando

Sunday, March 16, 2008

Ó meu peregrino que veio a esse mundo pra espalhar o amor com vossos santos lábios
Ás vezes me pergunto em oração como pode ser tão verdadeiro esse meu Romeu
Como fui ser agraciada com esse Romeu, euzinha essa torta Julieta de pouquinhas tetas ?
Um Romeu bufão que subverte o sentido das minhas tragedias, que me aponta o meu ridiculo,
Um Romeu Excentrico que num assobio lá debaixo da minha varanda bufa uma opera na minha rabiscada partitura
Um Romeu Palhaço Que flerta com minha Julieta como flertam os jovens amantes
Na suas desajeitadas descobertas
Que criou pra mim uma palacete relicário, um lar santuário, um cirquinho sagrado,
Picadeirinho de instantes, uma castelo com duas sacadas de eternas cascatas
Como pode beijar com tantas nuances a minha inquietude, esse principe de boca de trombone
Como consegue me dar mil vezes boa noite com incansável carinho, esse homem alto sem paciência
Como pode compreender os meus pecados antes mesmo de anunciados ou cometidos
como pode ser tão rude e tão doce esse meu Romeu
Como pode acordar tão do lado meu, esse meu Romeu Raul sem rima
Como pode ser tão elegante no seu tamanho, dentro de seu roupão manto branco
E tão ridiculo na sua grandeza real

te amo meu amor, um amor inacabado como esse textinho

feliz feliz 49

da sua

Juli lele ta

Sunday, March 09, 2008

o prazer de todos os dias às vezes me toma o tempo das palavras, aquelas que te prometi, por enquanto não há o que dizer e nem precisa

Friday, February 15, 2008

parte da pesquisa Camille: Fim ?!?

POEMA PARA UM TRISTE FIM

Triste é quando o que dele era menino se cala
e já não se escuta nem mais a sombra da dúvida
quando a brasa se aparta do fogo
e a conta paga-se com a lingua que um dia beijou
quando o som não samba mais
e a boa nova fica sem rima
quando a historia vira apenas papel
e morre numa estante na noite em que um dia ninguém mais a imaginou
Sem saber se ainda há poesia por ali
ou a carta da saudade realmente se extraviou
Sem saber se esse nada é só medo
ou é a chave dos seus sossegos
Sem saber se vão a si mesmos ou vão-se por aí mesmo
Triste fica uma sexta-feira vestida de branco

Felizes dos desacabados
Que não pensam o quê o Profeta anuncia para o seus reencontros, divinos ou profanos

eles? ... eles se separaram nunca mais se falaram e foram felizes para sempre