Friday, November 07, 2008

"pra veronica, uma amiga que também tem medo de andar de avião e vai pra tocantins no reveillon de ônibus"

Eu tenho pavor de avião. Eu não sei o quê as pessoas pensam quando o avião está decolando pra ficarem tão calmas. Eu faço planos ... pra eternidade. Penso no que eu posso fazer no entre vidas, no que eu quero ser na próxima encarnação. Sou amor ... sou amor. E vou plasmando. Eu sofro do efeito plasma na cadeira. Eu vou plasmando derretendo mesmo o meu corpo na cadeira. E começo a rezar meio alto. Fico parecendo uma carpideira. Se uma câmera me filmasse ia registrar um sapo desenhado pelo Tim Burton.

Eu só sossego quando apagam aquele sinalzinho do cinto de segurança. Aí eu penso: se o capitão Abreu ou o Capitão José Paulo Pedreira, ou seja, o Anônimo, a quem eu entreguei minha vida apagou a luz do cinto é porque deve estar tudo sob controle. Você já percebeu que a gente quer saber tudo. Quem tá saindo com quem, quantas calorias têm numa porcaria de um pãozinho de mel, mas nunca quer saber o nome do capitão do avião. Quantas pessoas vão falar com ele? Talvez aquelas pessoas que têm o cartão mega plus azul da AIRFRANCE. Talvez eles façam a famosa visita a cabine. Mas nada, nem o cartão mega plus azul da AIRFRANCE dá a eles o direito de dizer: Desculpa Seu Abreu mas o senhor é meio estranho. Eu não confio no senhor.

Tá certo. É uma paranóia minha. Pra quê saber o nome do capitão ??? Pelo mesmo motivo que o cara paga mais pelo champagne, pela cadeira que reclina, pela fila da first class: é pra se ter a ilusão de que tudo está sob controle. Ou pelo menos quase tudo. Ou pelo menos pra se ficar mais confortável.

Talvez a paranóia seja essa. O que fazer com o corpo quando o corpo não tem o controle. Controle ?! Fiquei aqui pensando qual a imagem imediata pra palavra controle. O ícone POP do controle?! Sim existe isso ... o ícone POP do controle no Google é nada mais nada menos que ... o controle remoto. Ninguém tem mais controle do que o remoto ... pelo menos virtualmente. Controle: essa nóia é de plástico e cheia de botões.

Às vezes me pego com essa loucura. Acho que eu puxei meu pai. Meu pai é uma dessas pessoas que se não está com o controle ... ele está descontrolado ... e descontrolando. Viajar com meu pai é uma das coisas mais engraçadas ... e desconcertantes do mundo. Ele é uma bola de boliche. Ele num aeroporto já começa brigando com a moça do check-in e vai. Ele briga com a mulher que detecta metais (e sempre acaba ficando de meias) ... com a minha irmã que quer comprar alguma coisa já no free-shop da IDA. Ele grita com a aeromoça ... Quando é assim eu até comemoro. Pior é quando ele chaveca a aeromoça... e acha que ela está gostando. Na última viagem que fizemos juntos ele conseguiu brigar com o passageiro da cadeira da frente. O cara reclamou que a minha irmã estava passando pra ir no banheiro e batendo na cadeira dele. Meu pai disse: O que você quer que ela faça? Ele disse: “Dá pra ela ter mais controle nos movimentos dela. Essa cadeira é minha. Eu paguei por ela”. Nossa pra quê? Meu pai – descontrolado - voou pra cima do cara. Queria bater nele. Quando é assim, eu já tenho até uma fala pronta. Eu digo: “O meu pai é louco, ele vai te bater, fica longe dele, ele é louco de verdade”. As pessoas geralmente ficam assustadíssimas. O meu pai quando é assim começa a fungar alto, parece um personagem da commeddia dell´arte, o brighella. Cômico. Italiano. Gesticulando. Nesse dia, nessa altura o avião inteiro estava olhando pra ele e comentando. As pessoas ficam apavoradas quando alguma coisa sai fora do controle.

Geralmente eu sou a favor da harmonia, mas, quando essas coisas acontecem nesses ambientes caretas, eu internamente, acho engraçadíssimo quando meu pai faz isso. Nesse dia quase fiquei sabendo o nome do capitão da aeronave. “Sr. Antenor, como capitão dessa aeronave, exijo que o senhor se comporte de acordo com as normas dos bons costumes e da boa educação. Se o senhor não conseguir manter-se sob controle seremos obrigados a intervir de maneira não-convencional (?), Sem mais, Sr. Capitão.”

1 comment:

Flavia Lorenzi said...

eu também tenho medo de avião,
e quando eu voltar para paris,DE AVIÃO,vou perguntar,sem dúvida,
o nome do sr capitão!!!